Instituto Maria Imaculada

 

José Marinho de Góes e a Sra. Angelina Ellery de Góes, proprietários do Sitio Pau d'Alho, incentivaram a vinda das Filhas da Caridade para fundarem uma escola em Pacoti através da doação do terreno da parte do sítio mais próxima do centro da cidade. E, assim D. Angelina dirigiu-se ao Colégio da Imaculada Conceição de Fortaleza onde se comunicou com a Superiora do Estabelecimento que de pronto aderiu à ideia e assim foi lançada a pedra fundamental da instituição de ensino que viria a se tornar a mais importante e tradicional da História de Pacoti.

As dificuldades foram inúmeras. E, embora inacabado e carente de tudo, o Patronato Imaculada Conceição de Pacoti começou a funcionar em 1º de maio de 1932, sob a dependência do Colégio da Imaculada Conceição de Fortaleza. Foram suas fundadoras: Irmã Jeanne Mahieu, Irmã Hermínia Matos, Irmã Clemência de Oliveira e Irmã Filomena Bastos. Irmã Mahieu, mesmo de Fortaleza ficou sendo Superiora da casa, vindo a Pacoti, mensalmente. Foram então matriculadas as primeiras alunas, em número de 52, recebendo alunas internas, semi-internas e externas. Outras irmãs foram chegando, entre as quais Irmã Olga Ferraz (Ma Mère) que foi nomeada a 1ª Superiora da casa em 1936, ocasião em que o Patronato se tornou independente do Colégio da Imaculada Conceição de Fortaleza.

O desenvolvimento do Patronato foi sentido nos anos seguintes pela amplitude de suas ações educacionais e socioculturais. A dedicada professora de Língua Portuguesa Maria de Lourdes Luz, Duquinha, conduziu o curso de socialização, orientando o Clube de Leitura Irmã Mahieu e o Grêmio Recreativo Luíza de Marillac, este último manteve um jornalzinho mensal intitulado “Flores Serranas” (primeiro n.º de 1934) que depois passou a ser uma revista trimestral a circular até a década de 1950.

O curso propriamente dito de estudos dividia-se em três seções, a saber: O Jardim da Infância, o Curso Primário e o Curso Doméstico. O Jardim, destinado aos pré-escolares, tinha duração de dois anos. O Jardim inicialmente funcionava numa simples tenda disposta no jardim da escola, virando depois o belo prédio em forma de quiosque octogonal que chegou aos nossos dias ainda a acolher as crianças. A primeira professora jardineira foi a ex-aluna Maria Lilair Luz, irmã de Duquinha, que devido ao tempo que passou nesta função marcou bastante a memória das pessoas que recordam vê-la a caminhar seguida de uma grande fila de pequeninos a fazer passeios matinais. Ainda hoje, se tem alguém na rua acompanhada de muitas crianças, uma voz exclama: “Lá vai uma Lilair”. Outra professora jardineira inesquecível na memória de muitos foi a Ir. Catarina Bibas. Apesar dos tantos anos, ambas as professoras ainda estão conosco, a nos brindar com a lucidez de suas belas histórias!

O Primário composto de cinco graus seguia o programa de ensino estadual, sendo acrescido de aulas de trabalhos manuais e prendas domésticas. O Curso Doméstico de duração de dois anos tinha em seu currículo o estudo das disciplinas Português, Matemática, Francês e princípios de educação doméstica, música teórica e orfeônica, arte culinária, corte e costura, bordados à máquina, jardinagem, datilografia.

Mantinha ainda o Patronato duas seções complementares ou ramificações: o Dispensário São José, de socorro aos pobres, distribuindo gêneros alimentícios e atendimento a doentes assistidos com medicamentos e curativos. Para os operários e empregados de ambos os sexos se organizou um catecismo dominical.

E a Fábrica de Rendas no espaço anexo ao Dispensário, no prédio posteriormente demolido e onde hoje se encontra o parque do jardim, destinada às crianças e adolescentes com o intuito de evitar a vida mendiga e ociosa, sendo geralmente filhas de pais ausentes durante a jornada de trabalho. Para elas era distribuído almoço, merenda e até mesmo doava-se roupas, calçados e material escolar que utilizariam nas aulas do Grupo Escolar Menezes Pimentel. Também na Fábrica recebiam lições de instrução religiosa, civilidade e instrução moral e cívica, além de educação física. Todos se encantavam ao ver as garotinhas cantarem com entusiasmo, seu belo hino, ao som do "teco-teco" dos bilros de suas almofadas coloridas.

HINO DAS RENDEIRINHAS

Eis aqui as rendeirinhas
Tão Joviais e espertinhas
Que trabalham com fervor
Pra ser gente de valor.

As nossas almofadinhas
De chitão novo bem cobertinhas
Nos convidam com amor
Ao trabalho, ao labor.

Teco, teco, teco, batendo nossos bilrinhos Teco, teco, teco, pulsando os coraçõezinhos Das rendeirinhas, que ativinhas, Querem findar as tarefinhas.

Como é belo de se ver
As rendeirinhas a trabalhar
Todas de aventalzinho
Contentes a cantarolar.

E depois, ao fim da tarde
Recolhidas a meditar
E as continhas do terço
Fervorosas a passar.

Outro campo de ação do Patronato era promover a criação de associações religiosas igualmente com intuitos espirituais e sociais. A “Associação das Filhas de Maria”, grupo vocacional e catequético que em 1941 contava com 120 membros. As “Senhoras de Caridade” dividiam-se em honorárias e visitantes, as primeiras eram contribuintes, as segundas, faziam as visitas domiciliares, levando os socorros necessários ao corpo ou à alma. A “Associação das Luizas de Marillac”, cujas sócias eram Filhas de Maria, porém mais voltada para o grupo de alunas que contribuíam na visita aos pobres velhinhos, no ensino do catecismo também sendo encarregadas do “Berço do Pobre”, confeccionando roupinhas para os recém-nascidos, indigentes, etc.

Havendo somente o curso Primário, foi fundada em 1943 uma Escola Doméstica, equiparada à Escola São Rafael de Fortaleza. Para maior aproveitamento das alunas, o Dr. Pio Saraiva Inspetor das Escolas Rurais, aqui fundou em 1945 uma Escola Normal Rural. Em 1947, com o progresso da Escola e com elementos suficientes no quadro de professores, foi criado o Ginásio de Maria Imaculada, e um belo hino da autoria do famoso maestro e cantor Vicente Celestino, lhe foi oferecido, sendo em seguida oficializado. A querida Ir. Teixeira, ou Teixerinha, era a pequena notável ao tocar o piano e cantar com rigorosa disciplina o:

HINO DO INSTITUTO MARIA IMACULADA

Letra e Música: Vicente Celestino

Instituto de Maria Imaculada * [Ó Ginásio de Maria Imaculada]
Onde puro e soberano impera o amor,
Tu és a nossa terra abençoada
A eterna moradia do Senhor
Recanto excluído da vaidade
E onde não há plebe nem brasões
Palácio encantado da bondade.
Refúgio dos mais castos corações.

Os filhos que educa neste mundo
De amor, de bem, de fé e de saber
Ser-te-ão agradecidos com carinho
Por toda a existência até morrer,
Madrinha do Instituto [Ginásio] Maria
O teu sagrado nome tudo encerra
Tu és Madona, pura, a luz e guia
De tudo o que existe sobre a Terra

Salve! Salve! Salve! Salve!
Instituto Maria Imaculada!
Salve! Salve! Salve! Salve!
A Virgem Santa Mãe idolatrada!

Em 1954, sob a direção de irmã Rosalie Cavalcante de saudosa memória foi construído um confortável prédio para o Dispensário São José, e nele funcionar um ambulatório e uma Escola para crianças pobres. Em 1955, o empresário benfeitor Fernando de Alencar Pinto, construiu o Dormitório para as alunas internas, confortáveis salas de aula e a Capela da Virgem da Medalha Milagrosa, bela e altaneira como a vemos na atualidade com sua interessante torre. As imagens que existem foram adquiridas no Rio de Janeiro por Irmã Rosalie Cavalcante e são como um piedoso marco de sua passagem em Pacoti onde faleceu a 05 de janeiro de 1955, para além de seus outros projetos sociais realizados.

Para termos uma ideia do que era o colégio das irmãs nos “anos dourados” da década de 1950, eis um trecho publicado na Revista São Vicente de 10 de dezembro de 1982 das lembranças da ex-aluna Núbia Brasileiro:

Nos anos 50, uma saraivada de preconceitos, despotismos, repressões tinha como alvo principal a mulher. A “superproteção” a ela assumia várias formas e modelos. O internato em colégio de freiras era um deles. Ali a jovem estaria a salvo (?) da malícia e do contato masculino (!) e ao mesmo tempo em que se instruía, desenvolvia sua religiosidade, preparava-se para as virtudes (e principalmente) sacrifícios e renúncias do casamento. Como muitas adolescentes de minha geração fui mandada ao internato do Ginásio de Maria Imaculada, em Pacoti. Acontece que comigo, como com todas que por ali passaram o tiro saiu pela culatra: o que deveria significar reclusão ou repressão tornou-se para nós sinônimo de liberdade, e recompensa pois acabávamos todas por amar aquela casa, onde a vida era uma festa. Festa, aí não é força de expressão, pois a pretexto de nada ou de quase tudo faziam-se shows e festivais, onde cantávamos, dançávamos, declamávamos, fazíamos discurso... Não foi à toa que enveredei pelos caminhos das artes e da comunicação. Ao lado das aulas regulares do currículo aprendíamos culinária, boas maneiras, costura, administração geral do lar, destinação maior das mulheres daquela época. Era já a verdadeira educação integral, tão propalada nos últimos tempos como grande novidade.

Com a ajuda de recursos provenientes da Alemanha foram construídos outros espaços como o refeitório, apartamentos para hóspedes, sala para arte-culinária e cozinha. Em 1961, foi instituído o Curso Normal Pedagógico que funcionou normalmente, até o ano de 2000, sendo que a Escola é Credenciada com os cursos: Educação Infantil, Ensino Fundamental e 2o Grau. Com o correr do tempo, nosso Colégio se tornou misto, pois antes só atendia meninas, passando assim a atender também à educação de rapazes.

 

Em 1973, incorporavam-se ao Patronato Imaculada Conceição, o Ginásio de Maria Imaculada e a Escola Normal Pedagógica, o qual passou a denominar-se: Instituto Maria Imaculada. Em 02 de janeiro de 1998, firmou-se um contrato, entre a Prefeitura Municipal de Pacoti e a Associação de São Vicente de Paulo de Fortaleza, entidade mantenedora do Instituto Maria Imaculada, onde a Escola passou a ser conveniada - (Ensino Fundamental) de Ia a 8* Série. Mesmo tendo sido firmado este convênio com o Município, a escola, ainda continuou a oferecer a classe de Alfabetização e Educação Infantil (Jardim Ternurinha) particular, no mesmo ano.

Em 2003, a então Diretora Irmã Maria Rita Esteves Desideri teve a ideia de construir um santuário de Nossa Senhora do Globo, no alto do morro e também por ocasião dos 70 anos, de sua fundação, foi criada a sala Recanto da Memória a pedido do GREPA – Grupo de Ex-alunas de Pacoti, sem o qual não se poderia ter salvado o que restou do valiosíssimo acervo de fotos, livros, lembranças acerca da história da caminhada do Instituto em prol da educação.

Em 2004, começou novamente a funcionar até a 1a Série - Particular, sendo que atualmente, funciona até a 3asérie do Ensino Fundamental 1. Mesmo tendo sido firmado este convênio com o Município, a escola, ainda continuou a oferecer a classe de Alfabetização e Educação Infantil (Jardim Ternurinha) particular, no ano de 1998.

Baseados nos estudos aqui ministrados e na boa educação aqui oferecida, muitos jovens que por aqui passaram, foram promovidos largamente na vida, em várias profissões como: Médicos, advogados, professores, jornalistas, musicistas, assistentes Sociais, enfermeiras de alto padrão. Mais de 100 moças se tornaram religiosas e estão espalhadas por esse Brasil afora, fazendo um bem imenso como educadoras, ou em hospitais á cabeceira dos doentes ou ainda em favelas orientando o povo ou ajudando às pessoas carentes.

Desde a fundação até hoje, a casa teve como irmãs serventes (superioras): Ir. Mahieu (1932-1936), Ir. Olga Ferraz (1936-1952), Ir. Mahieu (1952-1954), Ir. Olga Ferraz (1954-1963), Ir. Bezerra (1963 a 1965), Ir. Olga Ferraz (1965-1974), Ir. Eulália de Melo, “Zoé” (1974-1980), Ir. Irene C. Lima (1980-1981), Ir. Eulália de Melo (1981-1983), Ir. Maria Francileide Vasconcelos Bizerril (1984-1989), Ir. Mirian Sampaio Coelho (1990-1996), Ir. Raimunda Rodrigues Nobre (1996-1997), Ir. Maria Rita Esteves Desideri (1998-2004), Ir. Iraci Almeida Corrêa (2004-2010), Ir. Luzia Fernandes Feitosa (2010), Ir. Irislene Holanda Costa (2010-2012), Ir. Maria Eliete Gomes Lopes (2012) e Ir.Maria da Conceição Ferreira da Silva (2013).

Fonte: Livro Pacoti: História & Memória, de Levi Jucá (Editora Premius, 2014).

Projeto Jovem Explorador e o Ecomuseu
Trilha da Memória – Pacoti – CE