Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição

A capela primitiva que antecedeu este templo, construída em 1860, marcou a formação da povoação da Pendência, hoje Pacoti. Elevou-se à Matriz pela criação da Freguesia (Paróquia) de N. S. da Conceição da Pendência, por força da Lei Provincial N.º 2113 de 15/12/1885, e provisionada canonicamente pelo bispo Dom Joaquim José Vieira aos 29/05/1886. Seu primeiro pároco foi o Padre Constantino Gomes de Mattos. Somente ao longo do século XX esta igreja foi reformada e ampliada, tomando seu aspecto atual. É tombada como patrimônio histórico municipal desde 2002.
A Igreja Matriz construída e ampliada no cume da serrania da velha urbe passou por inúmeras reformas ao longo de sua existência, porém manteve a essência dos traços arquiteturais. Para melhor conhecermos a composição dessa principal edificação religiosa em seus detalhes e elementos artísticos, ninguém melhor que o pesquisador Francisco de Andrade e seu olhar de lince sobre as Igrejas do Ceará a nos dizer que o templo em abril de 1997:
(...) Fica em posição dominante, com adro elevado, após escadaria breve e balaustrada central, encontrando-se, porém, um tanto afogada pelas construções vizinhas, residências e o Salão Paroquial, que poderiam ter deixado espaços mais largos ais seus lados, onde o isolamento é parcial.
Não tem torres; a fachada é ampla no sentido horizontal, com três portas na parte central, altas, com folhas de madeira, em almofadas; sob as alas há desenho de duas outras portas, na realidade fechadas por alvenaria. No segundo pavimento vêm-se cinco janelas, protegidas por avarandados de balaústres de madeira, todas essas aberturas concluindo-se, acima, em arcos rebaixados, com moldura saliente, lisa.
A janela mais à esquerda de quem olha serve de campanário, vendo-se por ela o sino, cuja voz vibrante desde muito chama os fiéis à oração; as três partes da fronteira – resquícios da primitiva capela e seus acréscimos – são divididas por colunas aparentes, que terminam no alto, assim como as que marcam os extremos da fachada, por pináculos; existem, ainda, outros elementos decorativos dessa natureza, de maior volume e elevação, no fecho das partes laterais, onde poderiam estar as torres.
Há uma cornija assinalando o termo do segundo pavimento, sob esses pináculos; sobre ela, na parte central fica o frontão, com alguns desenhos em relevo e uma cruz de ferro no ponto mais elevado.
Das fachadas laterais só ficam expostos os trechos até a abertura dos braços da cruz (latina) cuja forma é a geral da igreja; em cada lado podem-se ver dois grandes arcos reentrantes, contendo cada um duas janelas idênticas, de arcos redondos, com um óculo semelhando uma rosácea sobre e entre elas; nas janelas, vitrais representando cenas da Via Dolorosa, de lâminas plásticas, pintadas, não vitrais verdadeiros, na acepção do termo, mas peças de muita boa qualidade e acabamento.
Entrando-se por esses pequenos becos sem saída, que constituem os espaços aos lados da igreja, chega-se a outras portas de entrada, para os braços da cruz, muito amplos, configurando-se em verdadeiras naves, em cujos extremos – externamente inalcançáveis, pois que se intrometem nos fundos das construções vizinhas – ficam outros conjuntos de duas janelas, com vitrais e rosáceas.
As últimas passagens da Via Sacra estão em janelas situadas aos fundos da sacristia, que é bem grande (e ainda existe um depósito após ela). Os corredores laterais, de três metros de largura, têm continuidade naquela, atravessando os braços da cruz por largas arcadas, que tanto permitem usar a sacristia como passagem, como dão integral visão para os últimos vitrais citados, de passos da Via Dolorosa.
Sobre a entrada principal encontra-se o coro, com pavimento de tábuas de madeira, para qual se sobe por uma escada do mesmo material, situada à direita; à esquerda fica a pia batismal, num aposento onde também fica um quadro de São João. Na face interior dessas pequenas saletas encontram-se nichos, fechados por portas envidraçadas, contendo as imagens de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro e do Bom Jesus dos Passos. Junto à este, à esquerda de quem entra, está o túmulo do “Pe. Kiliano (Fridolin Mitnacht), da Sociedade do Divino Salvador, Lengfeld, Alemanha 18.12.1913 +Pacoti, Brasil 13.02.1995. Viveu a caridade, agora vive na paz”, conforme se lê na lápide ali existente; junto fica um armário, onde se conservam objetos do seu uso pessoal e sacerdotal. Um pequeno cartaz diz: “Cooperadores: Côn. Belisário Elias de Souza, Pe. José Benício Nogueira e Weine Cleiton Matos Luz”. Foi assim que os paroquianos quiseram reverenciar esse sacerdote, que tantos serviços prestou à Pacoti.
Fato despercebido na descrição, ressalto a provável existência de outro túmulo localizado à esquerda do altar-mor, sinalizado por uma lápide onde consta o nome de dona Antonia Cândida de Assis (?-1917), seguido dos dizeres “Benfeitora desta Matriz / Requiescat in Pace”. Dona Cândida era esposa de Francisco Serafim de Assis, sobrinho do Cel. André Epifânio. Continuemos.
Existiram tribunas sobre os corredores, das quais restam as portas junto ao coro, a da esquerda semicerrada por alvenaria, formando um nicho, onde se guarda uma cruz, que me disseram ser comemorativa de umas Santas Missões pregadas em época remota (talvez umas que tiveram por missionário o Padre Guilherme Vaessen, da época em que era vigário o Pe. Antônio Bezerra, de que tive notícia); e a da direita convertida em janela, com varanda de balaústre, acima da nave.
O corpo da igreja é curto, de cerca de 12 metros (fora o pronau, de 3 metros), por 7,60 de largura; nos ângulos do arco-mor ficam dois altares, do modelo antigo, com ara de alvenaria e base larga, seguida de degraus, até o retábulo, onde ficam imagens do Sagrado Coração de Jesus e do Coração de Maria. Os retábulos constituem não pequenos santuários, com colunas de socos e capitéis formais, ladeados por outras de maior porte, planas, com relevos, que terminam por vãos decorativos; os frontões têm os emblemas das duas invocações às quais são dedicados os altares e concluem-se por colunetas, com um cruzeiro no alto.
A nave se comunica com os corredores por dois largos arcos, em cujas centrais ficam efígies de São Vicente de Paulo e São José; nas colunas que integram o arco-mor encontram-se representações de Nossa Senhora de Fátima e São Luiz de Gonzaga, enquanto nas paredes dos corredores, entre vitrais, estão São Judas Tadeu e São Tarcísio.
Nos braços da cruz, nas paredes que dão para os fundos, abrem-se nichos, com imagens de Nossa Senhora das Dores e Santa Terezinha do Menino Jesus, e na sacristia ainda há um, com reprodução de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil.
A capela-mor fica exatamente no centro do transepto, mais elevado em degrau – e, com ela, toda a extensão da parte traseira da igreja; comunica-se por dois arcos com as naves laterais, a partir de cujas colunas centrais sobe para o altar-mor, por outros três degraus.

O fato de ter o mesmo vigário – Padre Kiliano, por longo tempo, poupou este templo da ação dos iconoclastas; o altar é magnífico, sem riqueza nem ostentação, e até pintado, como toda a igreja, em cinza e branco: começa por uma mesa de alvenaria, sentada sobre colunetas unidas por pequenos arcos; sobre ela está o Sacrário, de metal dourado, com símbolos eucarísticos em relevo, na porta – de muito bom gosto, e três andares para castiçais e vasos de flores, tendo sobre o último um crucifixo; duas colunetas cilíndricas que se elevam a partir de um novo suporte para flores sustentam a estrutura superior, prolongando-se em frontão, com frisos e ornatos em alto relevo e três troncos de pilares, acima de tudo, com uma cruz sobre o do meio, mais elevado.
A imagem da padroeira, em nicho enquadrado por base, colunas e grinaldas com o emblema da Medalha Milagrosa, centraliza essa estrutura; a efígie antiga, possivelmente a original, foi a vítima de um acidente, partindo-se irremediavelmente, pelo que o Pe. Kiliano a adquiriu uma nova, de vestes em branco e azul, repousando sobre nuvens e com uma coroa, com aspecto um pouco diverso das reproduções de Nossa Senhora da Conceição.
Quanto à parte histórica, no mais antigo livro de casamento da freguesia de Baturité, que abrangia a região de Pacoti (depois subordinada à de Guaramiranga, quando esta foi criada), encontrei duas referências: em 10 de novembro de 1847 houve um enlace no Sítio Arvoredo (vizinho à cidade), então de propriedade de Vicente Ferreira Neves; depois, em 15 de novembro de 1849, foi feito um casamento na “Serra da Pendência, em desobriga”, sem que fosse informado o local. Observe-se que Pendência era a denominação do lugar, tanto que a freguesia foi criada como “de Nossa Senhora da Conceição da Pendência”.
O Bispo Dom Joaquim, em visita pastoral de 3 de novembro de 1901, afirmou, no respectivo Livro do Tombo, que o Pe. Constantino executou diversos melhoramentos na igreja, o que talvez queira dizer que ele transformou a primitiva capela em igreja, de fato, aumentando-a. Nessa visita de D. Joaquim, seu secretário foi o Padre José Barbosa de Jesus, filho de Pacoti e conhecido educador, em Fortaleza.
O Padre Constantino passou pouco tempo nesta paróquia, tendo sido, em 13 de abril de 1889, nomeado Bispo do Rio Grande do Sul, cargo que recusou, segundo registros do pesquisador Leonardo Mota. Afastado da Pendência, foi substituído pelo Pe. Antônio Ferreira Lima, que tomou posse em 19 de setembro de 1892, e realizou trabalhos em Palmeiras (Palmácia, de hoje) e Gado dos Ferros.
O futuro Monsenhor João Furtado foi o pároco seguinte, empossado em 01.11.1895, e escreveu muito pouco no Livro do Tombo; ao sair revelou que reformou o altar-mor, fez reparos na sacristia, nas calçadas, fez os altares de Nossa senhora do Carmo e de Santo Antônio (quem doou a imagem foi D. Antonia Cândida de Assis) e, também, adquiriu uma bela lâmpada para o Santíssimo. Do Padre Catão Porfírio Sampaio, que começou como coadjutor do anterior, passando a vigário em 1904, só se sabe que benzeu a capela de Santana e seu cemitério, em 24.12.1905 e 06.01.1906.
Passados outros responsáveis que nada disseram das suas realizações, veio o Padre Antônio Tabosa Braga, que passou muitos anos ali (ele foi protetor e, de certa forma, mentor do Dr. Francisco de Menezes Pimentel, futuro Interventor e Governador do Estado, no período de Getúlio Vargas), deixando uma legenda de eficiência e santidade, mas sem fazer registros, sequer das datas da sua nomeação e posse. Todavia se sabe que em janeiro e fevereiro de 1907 fez obras na Matriz: levantou o belo altar-mor, pintou a capela-mor, forrou o côro (o Major Laurindo Soares foi o encarregado de arrecadar contribuições). Em 8 de dezembro de 1907 houve solene cerimônia para benção do altar e respectiva imagem da Padroeira, na qual figuraram como padrinhos: do primeiro – os Cel. Francisco Antonio Marques de Oliveira, Cel. Francisco Antonio da Luz, Cel. José Cícero Sampaio, Luiz Gonzaga de Oliveira, Raimundo Moreira Viana, Francisco Franco, José Pimenta, Cel. Ivo de Holanda e Dr. Francisco Pires Barrocas, e, da imagem: Major Laurindo Soares, Francisco R. Pinheiro Landim e Francisco Daniel.
Em 1920 entrou o Padre José de Lima na função de pároco; este, no ano seguinte, fez a escadaria externa, em 1926 fez as arcadas da capela-mor e duas portas para fora (desde 1920 ele tomava conta da paróquia de Guaramiranga, que só em 11.01.1926 passou para a responsabilidade dos jesuítas de Baturité). Em 1927 foram reconstruídos os altares de Nossa Senhora de Fátima e do Santíssimo Coração de Jesus.
O vigário Pe. José Soares de Magalhães, em 1931 reformou o altar-mor, elevando seu piso. Em 2 de fevereiro de 1936 novo vigário – o Padre Antônio Bezerra de Menezes, que fez os arcos para a sacristia, nesse ano. Em 1939 houve Missões, pregadas pelos Padres Lazaristas Pedro Vermeulen e Thiago Plous. O Pe. Geraldo Andrade, salvatoriano, pároco a partir de 06.01.1944, constituiu o Salão Paroquial e a capela da Colina; já o Padre Erfo Roters, seu sucessor, promoveu grandes alterações e acréscimo, descrito com pouquíssimas palavras no Livro de Tombo: construiu os braços da cruz, onde estão as naves laterais da igreja.

Em 1982, houve uma reforma na Matriz, quando foram modificadas as janelas, que adquiriram, então, o formato atual, e receberam os vitrais, ofertados pelos donos de hoje do Sítio Arvoredo, de quem – na época era o Sr. Carlos Jereissati – já havia recebido o Sacrário.
Fonte: Adaptado do Livro Pacoti: História & Memória, de Levi Jucá (Editora Premius, 2014).
Projeto Jovem Explorador e o Ecomuseu
Trilha da Memória – Pacoti – CE