Hospital Padre Quiliano

 

Fachadas da Maternidade e Hospital, com destaque para a edificação original (acima) com o nome de Maternidade Dr. José Firmo. Acervos: IBGE - RJ, Weine Cleiton, Dagmar Pimenta e Levi Jucá.

A partir de então não se pode esquecer o indispensável apoio de alguns homens que souberam concretizar a infraestrutura necessária e definitiva para a realização de atendimentos médicos e realização de partos. Para ajudar a contar essa história, passo a palavra à minha amiga e memorialista Cláudia de Góes, ex-secretária de saúde e filha de Zelito de Góes, um dos benfeitores citados nos trechos em itálico retirados do jornal Folha de Pacoti, de 03 de setembro de 1988 a seguir:

Por volta de 1948, deixava a cidade de Pacoti, o Dr. Saraiva Xavier vindo a substituí-lo o Dr. José Firmo de Sousa Holanda, conhecido como Dr. Firmo jovem médico formado pela Faculdade de Medicina de Recife. Ao chegar a Pacoti reencontra seu velho e querido amigo, ex-colega do Colégio Domingos Sávio de Baturité nos idos de 1932/34, e posteriormente no Colégio Cearense de Fortaleza, onde juntos concluíram os estudos preparatórios. Esse seu velho amigo era o Sr. José Ellery Marinho de Góes, conhecido por Zelito.

Dr. Firmo, homem sisudo, alguém diria antipático e orgulho. Entretanto, por detrás desses adjetivos encontrava-se um grande médico, cônscio de suas responsabilidades profissionais. Apesar da “carranca fechada”, era um amigo incondicional dos seus amigos. Era o que se podia chamar de amigo certo das horas incertas. Este autêntico discípulo de Hipócrates muito se preocupava com a falta de condições existentes em Pacoti, para o bem exercer e executar seus conhecimentos profissionais.

Certo dia indo ele passar o fim de semana no Sítio Brejo, dos seus amigos Arcelino de Mattos Brito e Noemi Lopes de Mattos Brito, reuniram-se Dr. Firmo, Heitor Bastos e Zelito. E como não poderia deixar de ser, o Cel. Arcelino. Da reunião deste quarteto surgiu a ideia da construção de uma maternidade. Uma vez que a mais próxima de Pacoti, era a de Baturité, servida por uma precária estrada carroçável.

Este quarteto de amigos resolveu cair em campo logo na segunda-feira, angariando recursos para aquisição do terreno no qual seria edificada a maternidade. Foram inicialmente a Mulungu onde conseguiram doze sacas de café e quatro cargas de rapadura. Era um bom começo. Entusiasmado, outros se juntaram a este grupo, promovendo concorridos leilões em sítios de amigos como foi o caso do Sítio Logradouro, do Zelito, e Brejo do Cel. Arcelino.

De posse de um bom numerário, o grupo de amigos comprou um terreno à família Pimenta, terreno este que foi em parte loteado, e com a venda dos lotes foi iniciada a construção da maternidade.

A “Maternidade Dr. José Firmo”, inaugurada a 15 de maio de 1955, ficou sob os auspícios da Associação Pacotiense de Proteção à Maternidade e à Infância – APAMI, antiga APAI, assim denominada a partir de 1949 e de 1971 adiante se chama Associação de Proteção à Saúde, à Maternidade e à Infância – Pacoti, uma associação civil, de fins filantrópicos, de caráter beneficente e de assistência social. A diretoria da APAMI, publicada no Diário Oficial de 05 de agosto de 1949, possuía os seguintes membros: Pe. Erfo Roters (vigário), presidente; Luiz Cícero Sampaio (prefeito), 1º vice-presidente; Benilde de Queiroz Hipólito, 2ª vice-presidente; Maria Francisca da Rocha, 1ª secretária; Ivanira Holanda Gomes, 2ª secretária; Raimunda Nunes Gomes, 1ª tesoureira; Maria Edile Medina Lucena, 2ª tesoureira. A primeira criança nascida na maternidade em 09 de maio de 1955 foi do sexo feminino, e teve como padrinhos o então governador estadual Paulo Sarasate e sua esposa que se achavam presentes na recepção, recebendo a criança o nome de Albanisa, nome da respectiva primeira-dama do Estado.

Quando já estava concluída a obra, Dr. Firmo vai à Fortaleza tratar de um problema de saúde de sua esposa, vindo esta a falecer prematuramente. Seus amigos, Zelito e Heitor Bastos, profundamente consternados, num gesto de carinho e gratidão, mandaram colocar na fachada do prédio que ora nascia para que se bem pudessem nascer os filhos de Pacoti o nome de Maternidade Dona Neusa Holanda.

Posteriormente foi acrescida de um centro cirúrgico e algumas enfermeiras destinadas à ala hospitalar, graças à valiosa ajuda do Pe. Quiliano que a construiu. Devemos, contudo, a instrumentação do centro cirúrgico ao Dr. Marcelo Holanda, pacotiense filho de Antonio Duarte Holanda, do Sítio São Gonçalo, que fez essa doação ao Hospital e coincidentemente foi o responsável pela primeira cirurgia que inaugurou o centro.

O apoio prestado por Pe. Quiliano Mittnacht fez surgir o Hospital, junto da estrutura da Maternidade, inaugurado na década de 1960, quando a entidade passou a chamar-se “Hospital e Maternidade D. Neusa Holanda”. Por fim, a instituição passaria anos depois a ser denominada justamente “Hospital Pe. Quiliano e Maternidade D. Neusa Holanda”, ainda hoje situado à Rua Pe. Quiliano, n.º 143.

 

Apresentar pessoas como Dr. Firmo Holanda é uma tentativa de perpetuar a memória de indivíduos que em sua sabedoria e senso de bem comum foram agentes transformadores da sociedade que ainda hoje celebra seus legados. Trata-se talvez, hoje, de histórias fadadas ao esquecimento e que por essa razão faz-se ainda mais importante resgatá-las para este nosso presente tão carente de valorosos exemplos de sucesso, cuidado e gestos desinteressados.

Fonte: Texto adaptado do Livro “Pacoti, História & Memória”, de Levi Jucá (Editora Premius, 2014)

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Trilha da Memória – Pacoti – CE