Casario Antigo

 

Compondo uma vila residencial que preserva suas fachadas de arcos de ogiva, estas casas seculares pertencentes ao Sítio Pau do Alho abrigaram originalmente duas instituições: o Colégio de Nossa Senhora Auxiliadora e, posteriormente, os Postos de Higiene e de Combate à Bouba, chefiados pelo Dr. Francisco Saraiva Xavier, que atendiam como um pequeno hospital a partir da década de 1930.

O Colégio de Nossa Senhora Auxiliadora foi administrado por Maria Bastos d’Oliveira (diretora) e Eneydas Brígido (vice-diretora) e recebia alunas internas, externas e semi-internas. Mantinha aulas de música vocal, piano e bandolim, como também de trabalhos manuais e desenhos. O “colégio de dona Maria Bastos”, como era conhecido, teve como professora dona Olga Bastos, prima da diretora, que veio morar em Pacoti por causa deste convite profissional. Olga era uma exímia pianista, foi a matriarca da família Bastos já citada nesta obra e posteriormente também seria professora do Grupo Escolar Menezes Pimentel.

 

A instalação de uma mínima infraestrutura para atendimentos médicos só se deu com a criação do Posto de Higiene e do Posto de Combate à Bouba de Pacoti, devido à grande epidemia bubônica nos anos de 1930 a partir da grande seca. O primeiro chefe do posto de higiene (saúde) foi o Dr. Francisco Saraiva Xavier, inaugurando a política pública na área da saúde na interventoria de Menezes Pimentel. Data dessa época a estrutura atual do Posto de Saúde na Rua Cel .Luz, sendo acrescidos de novos postos construídos nas últimas décadas, também em algumas localidades rurais.

Nascido em Lavras da Mangabeira, no Cariri, o Dr. Saraiva morou em Baturité, onde tinha consultório, e elegeu-se, duas vezes, deputado da UDN pelo colégio eleitoral de Baturité. Em dia de eleição, na companhia do fiel escudeiro Pedro Penicilina, o Dr. Saraiva, corria uma por uma das sessões eleitorais às vezes para intimidar, com o revolver à mostra, a quem lhe ameaçasse tirar votos. Consta da crônica do legislativo cearense, uma passagem em que ele teve que disparar, sem êxito (não atingiu o alvo), dois tiros de sua arma, em sessão plenária, contra outro parlamentar que insistia em contrariar seus méritos. Muitos moradores antigos de Baturité, ainda hoje se recordam dele, ouvi muitas histórias contadas por seu grande amigo, Adauto Segundo, que reside em Baturité, é comerciante e muito lúcido, me contou que certa vez um adversário político taxou o Dr. Saraiva de miserável, porque não pintava a fachada de seu casarão, obteve a seguinte resposta do médico valente: É melhor ter a casa suja e a consciência limpa, do que a casa limpa e a consciência suja. (Retirado de: CAUSOS DO DR. FRANCISCO SARAIVA XAVIER, na página “Família Sampaio Xavier” no Facebook, acessada em janeiro de 2013).

Na década seguinte, por conta de um surto de esquistossomose, Pacoti tornou-se campo de investigação sobre essa doença e outras moléstias, especialmente verminoses, transmitidas pela contaminação do rio Pacoti, infestado de caramujos transmissores, e ausência de saneamento. As comunidades que participaram dos estudos de caso foram: Centro, Alto da Matança, Monguba e Ouro. A pesquisa foi dirigida pelo Dr. Joaquim Eduardo Alencar, médico pacatubense chefe do posto de Baturité, que organizou o serviço de bouba em Pacoti, cujo trabalho em forma de artigo foi publicado na Revista Ceará Médico, vol. 36, 1947 da Faculdade de Medicina.

Fonte: Livro Pacoti: História & Memória, de Levi Jucá (Editora Premius, 2014).

Projeto Jovem Explorador e o Ecomuseu
Trilha da Memória – Pacoti – CE