Casa Paroquial
Prédio construído pela “Sociedade Progressista Serrana” para sediar o “Instituto São Luiz”, escola masculina fundada em 1907 pelo Pe. Antônio Tabosa Braga Sobrinho, o Monsenhor Tabosa, quando vigário de Pacoti. Teve como primeiro diretor Francisco de Menezes Pimentel, que viria a ser governador do Ceará, sendo depois transferido para Fortaleza onde funcionou por décadas na Avenida do Imperador. Antes de abrigar a Secretaria e o Salão Paroquiais, neste local também funcionaram pousadas e hotéis.
A criação do Instituto São Luiz marca o início do progresso educacional de Pacoti e rememora seu fundador, Padre (Monsenhor) Tabosa. O município passava a ser uma referência educacional em todo o estado nesse início do século XX, realidade completada com a posterior abertura do Patronato, e depois Instituto de Maria Imaculada. Padre Tabosa em dupla com o jovem Menezes Pimentel deu início a essa obra. Eis a história:
Padre Antonio Tabosa Braga Sobrinho (Monsenhor Tabosa, 1874-1935) nasceu em Itapipoca – CE, filho de Domingos Francisco Braga e Ana Luísa Braga. Ingressou no Seminário de Fortaleza aos treze anos, fez o curso de Teologia na Paraíba, onde recebeu ordens sacras, conferidas pelo Bispo D. Adauto. Sua primeira paróquia foi a de Santa Quitéria – CE.
Francisco de Menezes Pimentel nasceu em Santa Quitéria, em 12 de setembro de 1887. Seus pais, José Balbino Ferreira Pimentel e Clara de Menezes Pimentel, mandaram-no desde pequeno frequentar a escola pública onde revelou logo aptidão para as letras.
Em 1901, Pimentel começou seus estudos no Instituto São Luiz, fundado naquela época em Santa Quitéria pelo Padre Antonio Tabosa Braga Sobrinho (Monsenhor Tabosa, 1874-1935) frequentado por cerca de 60 alunos, e manifestando grande talento e bom comportamento em 1905 já ensinava aula primária no mesmo colégio. O religioso tornou-se uma espécie de tutor do educador adolescente e investiu em sua capacidade profissional. Em 1906 Menezes Pimentel lecionou no Colégio Santo Antonio de Canindé.
Nesse mesmo ano, Pe. Tabosa foi transferido do sertão quiteriense para assumir o paroquiato da Imaculada Conceição de Pacoti, na Serra de Baturité. Acompanhando essa nova missão do sacerdote estava o jovem Pimentel que assumia a primeira grande empreitada de sua vida. Padre Tabosa viu-se obrigado a transferir o Instituto São Luiz para Pacoti e imbuído de um forte voto de confiança convidou Pimentel para ser o diretor do Instituto, aberto em julho de 1907. Assumiu o cargo aos vinte anos de idade e permaneceu nele mesmo durante sua ausência a partir de 1910 quando fez os estudos preparatórios no Liceu, e em seguida foi admitido na Faculdade de Direito. Em 1914 foi diplomado Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais.
O Instituto São Luiz era a primeira escola particular pacotiense, de orientação católica, com internato e semi-internato. Coincidentemente, com o pensamento de um ensino novo no Ceará, foi fundado em 1907 o primeiro grupo escolar do Ceará, mais precisamente a 12 de julho. Foi inaugurado o Grupo Escolar Nogueira Acioly, passando a funcionar no dia 15, três dias após a inauguração. Ana Facó foi convidada para dirigi-lo, por conselho do professor José de Barcellos, passando a ser a primeira diretora escolar dessa instituição.
Funcionando de início num casarão pertencente à paróquia, Menezes Pimentel organizou-se junto ao Padre Tabosa para construir um prédio para o funcionamento da escola, intento que se tornou realidade a partir de 1910. Para angariar os recursos necessários, foi criada a Sociedade Progressista Serrana, entidade composta de sócios cujas ações valiam cinquenta mil réis cada e tinham por objetivo chegar ao total de dez contos de réis, orçados para a construção do prédio e compra de mobiliário e equipamentos para o pleno funcionamento da escola. O grupo dirigente dessa Sociedade era formado por José Cícero Sampaio (presidente), Dr. Francisco Pires Barrocas (vice-presidente), João Dantas Pinheiro Landim (secretário) e Laurindo Soares de Souza (tesoureiro).
A maior parte dos acionistas eram pais de alunos que formavam a elite agrária do café e da cana, principais culturas da serra. Hoje, a centenária construção ainda existe (resiste) compondo o patrimônio arquitetônico municipal com sua fachada de portas e janelas de ogiva.
A criação de um grêmio literário no âmbito escolar também foi um marco significativo, haja vista que o mesmo produziu o primeiro jornal de Pacoti, intitulado “A Escola” de 1914, cujos literatos e articulistas eram alunos, professores e pessoas da comunidade. O jornal era mensal, tinha uma boa média de circulação, oferecia assinaturas e, como de praxe, reservava a última página para os reclames de comerciantes locais. O número de alunos chegava a quase cem, contando os internos e externos.
Para tratar de graves problemas de saúde Padre Tabosa viajou para o Rio de Janeiro em 1916 sem previsão de retorno e, assim, o Instituto S. Luiz foi transferido para Fortaleza onde depois receberia o nome de Ginásio São Luís. Na capital, funcionou até a década de 1950, reunindo nomes importantes em seu corpo docente como o professor Otávio Terceiro de Farias, do Liceu do Ceará. Situado à Avenida do Imperador, nº 505, na esquina com a Rua Liberato Barroso, em frente à residência de Menezes Pimentel, proprietário e diretor do estabelecimento de ensino.
O Instituto São Luiz de Pacoti reabriu em 1921, tendo o novo pároco Pe. José de Lima Ferreira como vice-diretor e o professor Júlio César Holanda, de Guaramiranga, como diretor, auxiliado pelo Dr. Luiz Sampaio, ex-aluno já formado em Direito. Nesse ínterim o professor José Medina inaugurou o Grêmio Literário 7 de setembro, por ocasião das comemorações do centenário da Independência em 1922.
Em 1924, depois de alguns desentendimentos com a paróquia o prof. Júlio Holanda é demitido sob a alegação de ter retirado resolutamente o ensino religioso do currículo escolar. O Pe. Zé Lima assumiu a direção e o quiteriense Jayme Magalhães ocupou o cargo de vice.
De instrução elementar e secundária, o Instituto, passando a chamar-se “Colégio São Luiz”, habilitava os alunos para exames de Liceu e Colégio Militar e sua publicidade estampava os principais jornais da época. Foi criado, a exemplo do antigo Instituto, o Grêmio Literário Padre Lima, que tinha como órgão a revista “A Vanguarda” lançada em 1925. Seu primeiro número trouxe diversos clichês, retratando o corpo docente, personalidades como Padre Tabosa e até a imagem de São Luiz de Gonzaga, protetor da juventude e patrono do colégio. Uma nota na seção de curiosidades trazia a informação de que num sítio próximo havia uma bananeira baé com dois cachos, um com 178 bananas e outro com 153!
Em 1927, Pe. Zé Lima vendeu o colégio a um grupo de comerciantes de Pacoti, dentre os quais estava Claudemiro Lopes, Timóteo Ribeiro e o líder do grupo Cel. João Gomes que procurou em Fortaleza um ex-aluno do colégio, Antonio Custódio de Azevedo (1906-1987), sobralense, deputado estadual (1955, 1959, 1963), para propor um negócio que o próprio Custódio descreve no livro de memórias O Poder da Força de Vontade, de 1986:
Professor Custódio eu vim aqui em nome de dez comerciantes, para falar com você. Em nome deles, vim convidá-lo para você ir tomar conta do colégio de lá. Padre Zé Lima quer vender o colégio e nós já compramos carteira, pratos, tudo o que havia lá dentro. Você vai tomar conta disso e nos pagará como puder pois não há prazo para nos pagar.
No mesmo dia Custódio seguiu à casa do Dr. Pimentel para pedir um conselho a respeito o ocorrido. Por se achar muito novo, com apenas vinte e um anos não se sentia capaz de dirigir o colégio. Pimentel encorajou-o e disse-lhe que faria uma grande administração. E fez. Abertas as matrículas, além de 72 alunos internos, foi iniciado um inédito curso para meninas abaixo de 16 anos, para o qual se matricularam 26. No segundo ano de direção, conseguiu uma escola militar, adquirindo tambores, carabinas e demais instrumentos para 50 alunos!
Nos anos seguintes Custódio restaurou todo o prédio e tentou negociar as velhas ações do colégio com o novo pároco Pe. José Soares Magalhães que depois de mostrar interesse em vendê-las desistiu e passou a querer comprar o colégio. Em 1930, após diversas tentativas frustradas, Custódio acabou por vender o colégio para o Pe. Magalhães, que sempre esteve irredutível em sua decisão, pelo valor de dez contos e vinte e cinco mil réis.
Após esse episódio o colégio encerrou suas atividades e adormeceu por muitos anos. Nos anos de 1940, boa parte das ações do colégio se encontrava na paróquia e muitas ainda nas mãos de particulares. Do lado do poente do prédio funcionava a escola noturna, mantida pela prefeitura, do nascente o escritório da cooperativa agrícola. A parte central era ocupada pelo Sr. Raimundo Lobato Sampaio e sua família desde 1941, sem pagar aluguel pela precária condição financeira que se encontrava. Apesar disso, o pagamento do Sr. Lobato seria quitado não com dinheiro, mas com uma ideia valiosa pela qual contribuiria para um dia fazer ressurgir o Colégio São Luiz.
Fonte: Adaptado do Livro Pacoti: História & Memória, de Levi Jucá (Editora Premius, 2014).
Projeto Jovem Explorador e o Ecomuseu
Trilha da Memória – Pacoti – CE